Fomos ao cinema no outro dia. Nada foi necessariamente combinado, apenas mandei para ele uma mensagem de texto, da faculdade (que ficava perto do cinema). Nos encontramos no prédio da escola e de lá nos dirigimos ao cinema. Neste dia comecei a reparar mais nele, no jeito dele ser e o resultado me agradou e me assustou ao mesmo tempo: o jeito dele era peculiarmente compatível comigo. Gostávamos de coisas parecidas e compartilhávamos de histórias parecidas em algumas partes, pelo menos, naquilo que dizia a respeito de escolhas. Comecei a perceber que, neste momento, estava do lado de alguém que eu, de certa forma, imaginava há muito tempo. Diferente de alguém que se imagina para casar, alguém que se imagina para estar do lado. A conversa era boa, discutíamos e a discussão era boa, e eu estava bem do lado dele... Unicamente bem.
Posso dizer que não estava sendo curado da minha angústia e do meu mal estar constante que me encontrava devido à situações vividas nas férias, mas me sentia momentaneamente bem quando estava com ele. Assistir ao filma ao lado de Akira me fez pensar sobre as situações em que nos encontramos, quando não sabemos o que a pessoa quer exatamente. Me fez sentir a angústia de estar ao lado de alguém que não sabemos se nos quer ou não. Queria poder ler seus pensamentos, mas ai lembrar que nunca sabia exatamente o que as pessoas queriam, e que nem elas sabiam o que eu queria. Mas toda a situação, por mais desesperadora no sentido de “vamos lá, me beija logo” não estava me atormentando, de fato. Antes do cinema conversamos bastante na praça de alimentação do shopping, e cada conversa só me fazia ver que gostava mais e mais de conversar com ele. Identificava alguns defeitos semelhantes, como por exemplo, a típica cabeça dura, e ainda via alguns problemas e noções que ele tinha que eu já havia passado em outros anos, quando era mais imaturo. No cinema, assistíamos ao filme e eu pensava comigo se o que estava sentindo era somente atração ou se era algo a mais. A sensação de estar ao lado de alguém que você sente bem, que essa presença te satisfaz, era algo que só havia experimentado com meus melhores amigos, mas também o seu jeito me atraia. Que estava sentindo? Não sabia responder.
Combinamos, quando estávamos indo embora, que ele iria a minha casa no sábado para vermos filme. Tudo combinado. Ele foi no domingo. Víamos um filme que falava sobre velhice, amores desgastados e situações de solidão, ou seja, um ótimo filme para conquistar a pessoa forçando-a a se ver no futuro e criando a intensão de pensamento “Será que não deveria pegar o que tenho aqui, agora? Não quero me sentir sozinho!”. Não pensei bem nessa estratégia mas, durante o filme, quando analisava a situação, percebi que era sim uma boa estratégia para ficar com alguém que se quer. O filme estragou no meio e não pudemos ver o final. Coloquei outro filme, agora uma comédia musical, mas o filme era muito ruim. Ficamos rindo e comentando o filme, “zuando”, e neste ponto, no lugar de ficar na cama enquanto ele estava no sofá de dois lugares, sentei-me ao seu lado. Ele encostava e não encostava em mim. Mantinha uma distância quase segura, mas muito mais próxima do que imaginava alguém, que não queria outra pessoa, ficaria.
A semana foi passando, não havia dito nada a ele, mas estava loucamente com vontade de tê-lo. Queria ficar ao seu lado, abraça-lo, fazer carinho, enfim, saciar nossas carências. Aquilo foi me deixando extremamente incomodado. Ainda lembro que segunda-feira, quando ele me contava que havia ficado com um cara, que nem conhecia, quando foi “conhecer o apartamento que ele cogitava dividir, para sair de casa” sai da internet sem dar muita satisfação e meio friamente. Vi que ele notou que eu estava diferente, como que com raiva, e gostei dele ter percebido isso. Durante a semana conversávamos, e em algum momento ele falou coisas que me fez pensar que talvez ele me queria, ou pelo menos sabia que eu o queria e que talvez estivesse disposto a ver se rolaria mesmo. Resumindo, fiquei a semana inteira imaginando e interpretando coisas que não queriam dizer o que realmente eram.
Era tudo novidade para mim. Estava sentindo ciúmes e nunca havia sentido isso. Estava angustiado e totalmente inseguro com alguém, como se fosse perder algo essencial na minha vida. Como poderia me sentir assim com alguém que havia conhecido há tão pouco tempo? E essa insegurança? Não estava me sentindo bem, e na quinta-feira, quando havíamos combinado de sair e, pouco antes de chegar ao local de encontro, recebo uma mensagem sua me avisando que não poderia me encontrar. Fiquei com muita raiva, obviamente, pois detesto que desmarquem comigo dessa forma – quando já estou praticamente no local – e ainda com mais raiva pois havia planejado falar dos meus sentimentos para ele. Trocamos mensagens. Ele havia dito que estava em uma reunião, eu não conseguia entender essa situação, pois achava que uma reunião, por mais que fosse marcada encima da hora, teria espaço para uma rápida ligação, para explicar-me a situação, pelo menos. De qualquer maneira ele ficou com raiva da minha reação e eu com raiva da atitude ele. No dia seguinte liguei, pois sabia que ele estava com raiva e ele foi frio comigo. Novamente uma atitude, minha, inédita: ignorar a culpa do outro e apenas me preocupar com minha reação, achando que isso seria motivo para não o ver mais. Não queria pensar no fato dele ter agido errado, eu estava me sentindo o errado, o culpado no caso de perder o contato com ele. Conversamos, a noite, e eu pedi para que ele passasse na minha escola, para sairmos e para que pudéssemos conversar, estava querendo desabafar um pouco sobre esses sentimentos. Ele disse que não, que gostaria de conversar, mas não poderia ser neste dia. Antes de desligar disse que gostaria muito de conversar com ele sobre algo, e lembro de nossa conversa...
- Fale agora, então – disse Akira, querendo resolver o assunto pelo telefone.
- Não, prefiro não – respondi, pois odeio resolver assuntos assim sem olhar olho no olho – Não quero conversar sobre isso pelo telefone ou internet, quero falar pessoalmente.
- Jeff, há coisas que as vezes nem precisam ser ditas então.
- Mas acho que isso não é uma dessas coisas. Prefiro pessoalmente, e prefiro falar.
- É que fico com medo de você esperar algo de mim que não vou corresponder ao que você quer – disse, sendo indireto nas palavras, mas suficientemente direto na intensão.
- Eu sei, mas não tem nada a ver, quero conversar e tem que ser pessoalmente. Amanhã podemos sair? – Falei com um aperto no coração fortíssimo.
Havia levado um fora, não precisava ter dúvida alguma, mas, apesar de me sentir mal, pois não iria tê-lo, estava aliviado, pois a angústia de querer resolver isso, de ficar esperando uma resposta, havia passado. Neste mesmo dia sai com um amigo para uma festa da faculdade, e estava bem comigo mesmo. Ou pelo menos achei.
Pode parecer uma coisa boba, ou até mesmo infundada essa maturação deste sentimento que foi gerado dentro de mim. Essa paixão, pois é assim que defino, foi e é grande de mais. Corrigindo: ela foi grande e cresceu cada dia que se passava. Nunca acordei um dia sem ter a certeza absoluta que estava mais apaixonado por ele. Minhas palavras podem ter sido curtas, mal colocadas, e não suficientes para terem detalhado o sentimento, mas quero que, neste momento, tenham em mente que o sentimento era absurdamente forte. Havia um nó em minha garganta e eu precisava falar sobre isso com ele. Por que falar? Primeiramente porque acho que todas as coisas, todos os problemas, quando são lidados no claro são mais fáceis de serem resolvidos. Problemas, digo, pois essa situação era um problema. Percebam: estava duplamente apaixonado! Apaixonado pela pessoa, Akira, que era uma personificação de tipo de amigo que gostaria de ter, tanto pelos gostos quanto pela personalidade – e enfatizo a personalidade, pois admito ser alguém difícil de lidar, principalmente pela minha arrogância natural que é uma forma de defender o ser frágil que sou por dentro – que, em todo momento, não pareceu estar sendo sobreposta pelo meu jeito de ser (tenho a mania de atropelar as pessoas). Mas também estava apaixonado pelo menino (ou homem, apesar de não conseguir ter uma imagem de “homem” dele) que estava conhecendo. Não queria perde-lo, afinal ele era alguém que eu queria ter ao meu lado, mas queria, também, ter ele ao meu lado de outra forma, mais íntima. Contudo esta última não poderia ser solucionada, pois não dependia somente de mim.
Nos encontramos naquele sábado, e tudo estava bom, como sempre. Era impressionante como estar ao lado dele me fazia sentir bem, me fazia esquecer da situação que ele próprio era causador, mas no final da noite não resisti a tentação de esconder o sentimento por mais tempo.
- Preciso conversar agora – disse quando estávamos indo embora, e estávamos em uma praça.
Falei de meus sentimentos, da forma mais tímida que já havia agido em toda minha vida. Já sabia a resposta e esta resposta foi dada da forma que imaginei – inclusive, poucas foram as coisas que, durante esse relacionamento, aconteceram como imaginei, se não uma das únicas. Sabia ele poderia estar se sentindo incomodado com tudo, mas deixei claro que “Não quero é perder contato com você. Você me faz bem! E isso que me interessa. Sei que sentir o que estou sentindo, estando apaixonado com você, é algo que pode ser uma confusão” menti, pois não era confusão alguma “mas quero estar com você, e vou trabalhar para deixar isso de lado e só ter atenção para a nossa amizade que está sendo construída”.
Conversamos e chegamos ao consenso de que deixaríamos a coisa simplesmente fluir, na questão da amizade, e que não queria que ele pensasse que qualquer coisa que fizesse seria por estar “afim” dele (odeio esse termo, porque afim eu fico de qualquer um, mas apaixonado não, e eu não aceitaria o fato de subjulgar o meu sentimento ou ele, pois ele não era, e acho ainda, apesar de doer, que não é qualquer um). Queria deixar claro que todas as minhas atitudes seriam tomadas visando a amizade, como com qualquer um, e que também, com isso, vinha a responsabilidade dele não me tratar mal achando que estava fazendo algo apenas para “dar encima”. É uma situação complicada.
Fomos embora e tudo estava tenso, mas foi ficando comum, e continuamos a sair. Apresentei ele à alguns amigos. Meu melhor amigo admitiu que a situação era difícil, afinal, Akira era atraente e interessante, mas a parte mais difícil só eu conseguia ver. Akira, acima de tudo, parecia ter sido feito pra mim. Não falando de aparência - quesito este que até desejei não existir, pois, na minha cabeça, havia sido julgado e não estava com ele unicamente por conta disso -, nem de situação financeira – quesito este que tenho extremo medo de ser colocado no patamar de pessoas que se interessam por outras por conta disso -, ou de qualquer outra coisa comum. Quando falava para alguém que era difícil não era pelo que Akira era, mas por como nossa relação era. Ele já havia me elogiado, havia dito que eu era uma pessoa fantástica, inclusive disse isso no dia que contei sobre meus sentimentos (seguido de um “mas não gosto de você da mesma maneira, apesar disso”).
Gostar de alguém pelo que esse alguém é, é extremamente fácil de lidar, pelo menos pra mim. Considerando que você se interessa por características, se por algum acaso essas características somem, esse alguém deixa de te atrair. Atraia-se não por elementos, mas pela reação, e verá como a coisa é mais complicada. A dificuldade se encontrava não no que eu poderia descrever facilmente, ou poderia indicar apontando, estava no momento do contato entre mim e ele, da conversa, do carinho.
Tudo foi se desenvolvendo e caminhando. Ficava triste e havia horas que não conseguia esconder mais. As dores de antes voltaram. Sentia-me um lixo, pouca coisa, ou seja, com a autoestima lá embaixo. Tudo doía muito. Queria não ficar pensando em ter sido julgado pela aparência, mas via ele e concordava que ele era lindo e que deveria ficar com meninos mais lindos ainda. Nunca fui lindo. Estava acima do peso (pensei em digitar “bem acima do peso” mas acho que também não estou obeso) e não era um grande exemplo de masculinidade (apesar de poder andar na rua sem ser alvo de chacota). Chorei várias vezes por isso, mas Akira nunca soube (ou está sabendo agora). Sentia isso porque estava sendo julgado por algo que eu não julgava ele. Não me importava com a aparência. Apesar dela me atrair isso virou a menor coisa que eu me importava com ele.
Akira não era perfeito, estava longe disso. Era infantil, arrogante, egocêntrico e orgulhoso. Sua característica mais marcante, a imaturidade, gritava. Ele não parecia saber lidar com as situações diversas que o mundo lhe proporcionava. Apesar de já ser chefe de família, devido à morte de seu pai há um ano, ele não sabia o que significava ser alguma coisa pra alguém. Notava isso ao perceber como ele tratava os assuntos familiares. Procurava sempre se colocar como filho submisso as vontades da mãe, e quando digo isso não digo no âmbito material, mas emocionalmente falando. Ele se preocupava tanto em ver a mãe “não sofrendo” que dizia “sacrificar sua alegria pela alegria dos outros”, mas era obvio que estes “outros” significavam sua mãe. Diversas vezes ele disse que o mundo deveria seguir sua lógica. Procurar a felicidade própria na felicidade dos outros. Tudo muito bonito de falar, mas totalmente infundado seu raciocínio. Procure a felicidade no outro e se restrinja a isso e você verá a tristeza dominar seu ser. Claro que se as pessoas não sentissem inveja e compartilhassem mais as coisas seriam lindas, mas muito antes disso o mundo precisa de respeito, respeito esse que começa com o indivíduo se auto respeitando como único e detentor do direito de ser feliz propriamente. Sentir-se restrito a lógica da felicidade através de terceiros é, primeiro, um equívoco filosófico, pois se todos só forem felizes se o outro for feliz, e este outro só é feliz se todos forem felizes, quando que isso vai ter um início? Todos ficaram em eterna suspensão apática? Alguém precisa tomar a iniciativa e ser feliz por si só. Além disso, é uma demonstração de falta de propósito e de personalidade.
Este seu discurso demonstrava como era imaturo, inseguro e sem rumo. Sua posição, de chefe de família, não condizia, como disse, a sua posição emocional. Ele aspirava por um mundo perfeito, com uma revolução que transformaria o mundo num lugar melhor, e quando o questionei sobre o que ele havia feito por isso, ele me respondeu apenas que “nada, mas se alguém começar a fazer isso, claro que eu faria também”, ou seja, o que todo mundo, que nunca pensou em nada realmente novo, pensa. Este discurso de “vou fazer quando todo mundo tiver fazendo” demonstra a falta de iniciativa, de princípios, e da falta de muita coisa. Se orgulhar de pensar assim achando que está fazendo algo diferente mostra o quão infantil e arrogante ele era, cego.
Meus pontos de vista sempre foram diferentes. Não esperava mais pela revolução, eu fazia minha parte, o que pouca gente faz. O qual parte? Estudar, criticar, viver bem e fazer com que as pessoas ao seu redor vivam bem. E fui questionado quanto a ser individualista, mas a individualidade estava em mim, que procura das formas com que posso em questionar e tentar mudar o pouco que consigo o mundo que vivo, ou estava nele em só fazer aquilo que cercava seu curto campo de visão. Sua família, sua mãe, eram seus grilhões e ele, em todas as vezes que falava em se sacrificar pelo bem alheio, para mim queria dizer em sacrificar sua imagem perante sua mãe para viver bem na família que tinha. Seu sonho de família perfeita demonstrava o quão influenciável ele era pela mídia e pelo consumo. Onde estava a postura de um chefe? Onde estava aquele ar de “vou fazer o que me deixa feliz” de uma pessoa de sua idade e na sua condição financeira? Onde estava sua maturidade?
Mas aceitei. Aceitei todos estes defeitos, pois fui assim. Achava que o mundo deveria seguir minhas regras, e já falei a mesma frase quando o questionava “mas e se eu tiver certo?”. Bem, assumo que me via nele, com 16 anos, e ele tinha 24, e essa identificação do meu passado me confortava pelo fato de ter em mente que tudo isso mudaria. Mudou em mim, ter alguém do meu lado desse jeito, por que não mudaria nele?
E os dias passaram. E o sonho foi ficando distante, a dor se tornou intensa o suficiente para me acordar e começar a desejar que ela fosse embora, somente. E foi o que comecei a fazer. Comecei a passar dia após dia me policiando para parar de pensar nessa situação. Queria apenas aceitar quem eu era e que ele não me desejava como eu o desejava. Vi várias coisas para me fazer acreditar nisso. Comecei a me sentir bem comigo mesmo. Doeu, mas começou a passar. Estava bom, ótimo, pois eu estava ficando independente desse sentimento de desejo e a nossa amizade começava a galopar. Estávamos próximos.
Claro que o mundo é feio, e não decorado com laços de ouro. No dia que havia tido por mim que eu estava livre, feliz , e já poderia vê-lo com outra pessoa pois não me importaria... Nos beijamos.
Se o céu existisse, ele seria exatamente daquele jeito.
Perfeito.
E é aqui que deixo a história parada, pois é desse momento que preciso que você, leitor, me entenda. Não necessariamente da felicidade de ter conseguido meu sonho, mas da angústia que vivi até obtê-lo, e da dor, futuramente, em perdê-lo.
Sim, Akira não está comigo mais. Durou duas semanas, somente, mas esse sentimento ficará para a segunda parte das crônicas.
De momento preciso que compreenda meu sentimento vivido desde o primeiro dia ao vê-lo até o dia em que tudo se resolveu.
Por que contar o resultado, sendo que poderia deixar a parte decisiva para o final? Porque ela não é a parte decisiva. Quero que leia cada crônica tendo em mente que estivemos juntos. Que tudo o que desejava eu consegui neste dia.
O sentimento aqui não é de amor. Não amei Akira. Não está em Akira, está em mim. O sentimento que tratarei chama-se INSEGURANÇA. O medo de não conseguir algo, e nada será belo. Trata-se da dor de desejar muito algo, de como a imaginação trabalha, dos delírios de um menino com muita imaginação e das trevas que passei por não me amar e nem ser suficientemente maduro.
Espero que gostem.
O incerto começa agora.
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